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Em um mundo cada vez mais globalizado e interdependente, é certo que problemas regionais podem ter suas consequências sentidas muito além das fronteiras dos países envolvidos na questão. No caso do conflito que atualmente se desenrola entre Rússia e Ucrânia, essas consequências reverberam por todo o mundo, já que os dois países estão entre os principais “players” do mercado internacional de commodities.
Mundialmente, a escalada do conflito no leste europeu já provocou a queda do dólar e a alta da inflação. Isso porque a Rússia é fornecedora de gás para a Europa e um dos principais produtores de petróleo do mundo. A possibilidade da interrupção do fornecimento desses produtos pela Rússia puxa os preços da energia para cima, o que encarece praticamente todos os custos de produção ao redor do mundo. No caso do petróleo, a cotação nesta semana chegou ao maior valor em 7 anos.
Com a alta da inflação mundial, sobem os preços das commodities, o que tem um efeito positivo no setor de exportação de grãos do Brasil. Outra consequência é que países concorrentes da Ucrânia e da Rússia, como é o caso do Brasil, podem se beneficiar de uma maior participação de mercado nas cadeias de milho e soja.
No caso da soja e derivados, tanto Rússia quanto Ucrânia vêm aumentando a produção. As exportações de óleo de soja, por exemplo, vêm crescendo 18% ao ano desde 2010, nos dois países. Com o conflito, essa parcela do mercado pode ser parcialmente absorvida pelo Brasil.
Mas se por um lado a alta dos preços e as movimentações no mercado de grãos podem beneficiar o Agro brasileiro, por outro lado o aumento dos custos de produção podem ter consequências não tão bem-vindas. A Rússia é o maior fornecedor de cloreto de potássio e fertilizantes para o Brasil, e a escassez e alta de preço desses produtos provocam aumento nos custos de produção de todo o setor.
Outro fator a ser considerado é que, se a alta da soja e do milho beneficiam os produtores brasileiros, a alta do trigo tem efeito negativo no nosso mercado de alimentos. O trigo argentino, que hoje abastece o mercado brasileiro, também deve subir bastante de preço, o que têm consequências diretas no custo de produção da farinha de trigo e seus derivados. Rússia e Ucrânia estão entre os cinco maiores produtores desse grão atualmente.
E se essas oscilações e mudanças na balança comercial mundial têm ramificações em praticamente todos os setores produtivos, a questão geopolítica pode ter desdobramentos ainda mais significativos. Como EUA e China vão atuar durante o conflito será determinante para o mercado agro brasileiro.