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Comparativo Histórico: Secas Anteriores
Antes da atual seca, a maior registrada havia ocorrido entre 2015 e 2016, quando aproximadamente 54% do país foi afetado. Outro marco histórico foi a seca de 1997-1998, que abrangeu 3,6 milhões de quilômetros quadrados, ou 42% do território brasileiro. No entanto, os índices de chuva abaixo da média histórica observados em 2023-2024, aliados ao aumento das temperaturas, indicam uma severidade sem precedentes, conforme especialistas do Cemaden e do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (Cemtec/MS).
Impactos nos Biomas e no Pantanal
A situação é particularmente grave no Pantanal, que vem sofrendo com secas prolongadas desde 2019. A região enfrenta um ciclo de eventos climáticos extremos, como o fenômeno El Niño, responsável pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico e por alterações no regime de chuvas. Entre 2019 e 2022, o Pantanal registrou três episódios consecutivos de El Niño, e agora enfrenta uma combinação devastadora de precipitação abaixo da média, temperaturas elevadas e níveis críticos dos rios.
Em outubro de 2024, o rio Paraguai, uma das principais fontes hídricas da região, atingiu o menor nível histórico na estação fluviométrica de Ladário, com -69 centímetros. Outro recorde foi registrado em Porto Murtinho, onde o nível chegou a apenas 53 centímetros. Essa escassez hídrica extrema afeta não apenas a biodiversidade, mas também atividades econômicas como agricultura e pecuária, além de comprometer o abastecimento de água para a população.
Riscos Ambientais e Operacionais
A seca aumenta significativamente a vulnerabilidade ambiental e cria condições ideais para a propagação de incêndios florestais. No Pantanal, esse risco tem sido uma preocupação constante, especialmente durante os períodos de estiagem. O Cemtec/MS reforça que as temperaturas acima da média, previstas para a Primavera de 2024, elevam a probabilidade de incêndios florestais nas regiões do Pantanal e do Sudoeste de Mato Grosso do Sul.
Diante desse cenário, o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) emitiu alertas sobre os riscos associados à seca, incluindo impactos ambientais e operacionais. O baixo nível dos rios prejudica a navegabilidade e compromete ecossistemas essenciais, como a regulação do clima e a manutenção da biodiversidade.
Impactos Socioeconômicos
Além dos impactos ambientais, a seca traz desafios significativos para a economia brasileira. Na agricultura, a redução no volume de chuvas afeta diretamente a produtividade, enquanto a pecuária sofre com a escassez de pastagens e a falta de água para os animais. O abastecimento urbano também enfrenta dificuldades, com muitas cidades implementando medidas de racionamento de água.
De acordo com o Cemtec/MS, cerca de 1.200 municípios brasileiros enfrentaram condições de seca severa até setembro de 2024. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, 31 dos 45 municípios analisados registraram chuvas muito abaixo da média histórica em julho deste ano.
Prognósticos para os Próximos Meses
Embora os prognósticos do Cemtec/MS indiquem que as chuvas durante a Primavera de 2024 devem ficar dentro ou próximas da média histórica em Mato Grosso do Sul, as temperaturas continuarão elevadas. Isso reforça a necessidade de medidas preventivas, como a contenção de incêndios florestais e o manejo adequado dos recursos hídricos.
Os especialistas alertam que a adaptação às mudanças climáticas será crucial para mitigar os impactos da seca, exigindo investimentos em infraestrutura hídrica, políticas públicas eficazes e conscientização da população.
A seca de 2023-2024 já é um marco histórico e um desafio imenso para o Brasil. Seus impactos vão muito além dos números, afetando diretamente a vida de milhões de pessoas e comprometendo os ecossistemas naturais. À medida que as mudanças climáticas continuam a alterar os padrões climáticos globais, é essencial que o país adote estratégias de mitigação e adaptação para enfrentar eventos extremos cada vez mais frequentes.